ADIVINHAÇÃO, PENSAMENTO MÁGICO, ASTROLOGIA

Em muitas culturas, talvez em todas, ao lado dos sistemas de crenças religiosas e das práticas mágicas, encontram-se sistemas mais ou menos extensos e explícitos de tipo divinatório. Trata-se de aparatos comunicativos que, por intermédio de técnicas particulares, permitem à cultura em questão obter «conhecimentos» sobre a realidade que de outro modo seriam ignorados, desde fatos do além e sobrenaturais até acontecimentos do futuro, desde características ocultas na essência das coisas e das pessoas até realidades empíricas que não são de outro modo passíveis de conhecimento. A técnica de adivinhação mais difundida é a pura e simples profecia, vista no mínimo como mensagem de entidades sobrenaturais. Trata-se de adivinhações do «grau zero», simples enunciados de uma mensagem sobre o que é ignorado; o seu carácter «crítico» consiste no fato de não se seguir a nenhum ato cognitivo correspondente. No entanto, toda a previsão mais ou menos bem fundada, desde «O Sol nascerá também amanhã» a «O sal é solúvel na água», ou «O nativo de Escorpião tende para a violência», ou «Ibis redibis non morieris in bello», contém, a títulos diferentes, uma profecia. Existe, sob este ponto de vista, uma continuidade entre previsão científica, informação do senso comum, «intuição» mais ou menos fundada, empírica ou psicologicamente, aposta e adivinhação propriamente dita. Todas se concluem com uma profecia.

Um estudo que tente distinguir os segmentos úteis, ou melhor, indispensáveis, desta série de modalidades de comunicação pode agir  sobre três pontos críticos: as modalidades do ato cognitivo que precede a profecia, as modalidades discursivas segundo as quais a profecia é formulada, as modalidades de verificação do seu enunciado. O primeiro e o terceiro pontos são os lugares tradicionais do discurso epistemológico, do positivismo para cá. A previsão científica foi caracterizada relativamente às outras classes de profecias pelo fato de surgir na seqüência de um processo cognitivo mais ou menos especificamente empírico-dedutivo, de ser em princípio falsificável mas não em contraste com os dados, e assim por diante. Estes requisitos não tardaram a complicar-se devido a duas exigências parcialmente contraditórias: por um lado, de delimitar ao máximo a especificidade da previsão científica, por outro, de ser suficientemente liberal para não excluir práticas de previsão comummente adotadas pela comunidade científica. Daqui derivou um grau de complexidade da análise epistemológica que toma muito discutível o valor de tais critérios. Pode pois revelar-se útil uma análise das modalidades discursivas segundo as quais são formuladas as diversas classes de adivinhações, desde as menos fundadas e mais «místicas» até às aplicações normais de «leis» físicas.  

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